O final de Dexter e o roteirista covarde

Uma das coisas que mais me irrita em uma série de TV é quando você percebe que o melhor caminho a seguir é aquele, sabe que o personagem deve tomar aquela decisão, mas vê que os roteiristas nunca fariam aquilo porque não têm coragem de bancar as consequências. Esse processo costuma acontecer muito em seriados de TV aberta. Cito um exemplo: Grey’s Anatomy. Tanto Izzie quanto George deveriam morrer no final da quinta temporada. Mas a série se acovardou e levou apenas George, enquanto Izzie teve uma sobrevida sofrível de episódios ruins e acabou deixando o hospital algumas semanas mais tarde.

Outro exemplo, do lado oposto, vem de Six Feet Under (sim, lá vou eu de novo falar disso). Uma série de TV a cabo que, nos últimos capítulos, tinha uma decisão a tomar: mencionar ou não o teor incestuoso da relação entre Bill e Brenda. E, no episódio final, fez com que a personagem cogitasse mudar o nome, viajar para a Europa e viver como um casal ao lado de seu próprio irmão, o único homem com quem ela se sentia aceita.

Dexter tinha, neste final da quinta temporada, uma decisão a tomar. Debra seguiu de perto os passos de seus vigilantes, até o ponto em que (aí nota-se a evolução da personagem) conseguiu resolver sozinha o caso usando uma teoria em que ninguém mais colocou muita fé. E ali estava ela, parada, na frente dos justiceiros dos assassinos dos barris. Ela (e os roteiristas) tinham uma escolha a fazer: seguir em frente, revelar Dexter para sua irmã, dar mostra do passageiro sombrio que o habita para a pessoa que esteve ao seu lado desde o começo, ou recuar.

Os autores da série, covardes, recuaram. Tiveram medo de dar este passo gigantesco com a trama da atração, passo que mudaria tudo e que os obrigaria a pensar em algo novo, em explorar o ineditismo em uma série que há algumas temporadas peca pela repetição de seus esquemas narrativos.  Para mim, a maior indicação de que Dexter não vai acabar bem se for estendida por muitos anos é exatamente esta: os roteiristas não tiveram coragem de fazer o que era necessário para construir a evolução de uma boa história.

No final do episódio The Big One, Dexter comemora o aniversário de um ano de Dexter e sopra as velinhas reafirmando que até gostaria de se tornar uma pessoa mais humana, mas que desejos são para crianças. E agora? Para onde vai o sexto  ano, já que a renovação já foi garantida? Qualquer caminho é possível. E quando cinco temporadas de uma história foram contadas para fazer dela uma página em branco novamente, alguma coisa deu errado no caminho.

Forget Fuck

É disto que eu estou falando, meus caros. Glee, lá no começo da primeira temporada, ousava, desafiava, colocava na tela algo que era mais do que uma sucessão de clichês bobinhos sobre uma escola norte-americana comum.

Pois no último episódio da série, Gwyneth Paltrow – sim, aquela mocinha cheia de talento – cantou Fuck You. Bacana, não? Mais ou menos. Em vez de optarem por usar o palavrão, os produtores resolveram trocar o título por Forget You.

Pronto, era isso. Só queria pontuar o quão patético tudo isso se tornou. Divirta-se com Forget You:

The Walking Dead

Estreou nesta semana tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos The Walking Dead, nova série do canal norte-americano AMC, o mesmo responsável por programas como Mad Men e Breaking Bad.

E vale cada comentário positivo que você ouviu sobre a série.Eu não curto muito o tema zumbi, então fui assistir ao programa para ver se era tudo isso mesmo, e por conta dos trailers que me chamaram a atenção.

Mas o incrível é que você não precisa ser fã de zumbis para curtir a coisa. Se fosse qualquer outro monstro ali no lugar, ouso dizer, a série seria tão boa quanto. Isto porque o que conquistou mesmo foi o clime de suspense – quase terror psicológico – o tempo todo.

A série é centrada em Rick, um policial de uma cidade pequena norte-americana que, depois de ser baleado em ação, entra em coma. Quando acorda, o mundo foi tomado por uma invasão zumbi, e ele é um dos únicos sobreviventes do ataque.

Enquanto se esconde dos mortos-vivos aqui e ali, enquanto explora as ruas da cidade deserta e tenta garantir sua sobrevivência, é raro que, para começar, uma trilha sonora o acompanhe. Os cortes secos e a falta de música ao fundo dão ao thriller um ritmo constante de fôlego suspenso, sabe? Tenso, asssustador, divertidíssimo.

Sendo Erica Strange

Eu tenho muitos problemas com séries de mulherzinha. Todo mundo sabe o que é uma série de mulherzinha. Aquela coisa bonitinha e fofa cheia de sentimentalismos que faz você pensar o tempo todo sobre para onde está indo a sua vida.

Eu gosto de pensar para onde está indo a minha. Mas depois de muitas horas qualquer conclusão se torna uma tragédia shakespeariana, como toda geminiana consegue fazer, e isso pode ser cansativo de vez em quando. Fora que eu acho que nasci com menos estrogênio do que deveria. Não tenho as frescuras que o padrão-mulher hoje em dia exige.

Mas todas estas teorias sobre mim caem por terra quando o assunto é Being Erica, uma das séries mais mulherzinha que eu já vi na vida – e uma das minhas preferidas. Canadense, esta atração está na terceira temporada e o motivo deste post é o seguinte: não para de acertar.

Na nova fase de Erica Strange, nossa heroína – uma mulher comum agora com 34 anos e uma carreira a construir pela frente – precisa enfrentar mais uma vez o medo de controlar a própria vida e levar a nova editora com Julianne, enquanto cura as feridas deixadas por Ethan e parte em busca de um novo romance.

Foi agora nesta temporada, portanto, que eu consegui articular o que me faz realmente amar Erica Strange: o medo. Tudo o que ela quer fazer com sua vida é ser feliz e fazer as escolhas certas. Mas o medo de seguir em frente na maioria das situações é o que segura Erica e faz com que a personagem se torne tão inteligente, tão comum, tão interessante.

O que me aproxima tanto dela, ainda, é momento da minha vida em que eu comecei a assistir a essa série. Eu sinto que os meus últimos três anos foram quase que equivalentes às três temporadas pelas quais Erica Strange passou. Devo ter amadurecido quase tanto quanto ela e passei por desafios e felicidades que não caberiam em um piloto. Tudo isto na companhia daquela que já faz parte da galeria das minhas queridas personagens favoritas.

David E. Kelley e a Mulher Maravilha

David E. Kelley – mais conhecido em culturas intelectualmente superiores como O Mestre – anunciou seu novo projeto. Depois de Boston Legal, Ally McBeal, The Practice e a ainda inédita Harry’s Law, o roteirista vai se dedicar ao remake de Wonder Woman, a Mulher Maravilha, série clássica dos anos 1970.

Que devo dizer eu? Não imagino mesmo Kelley por trás de alguma coisa com chances de dar errado. Quem escreve os diálogos fantásticos de Allan Shore e Denny Crane pode dar seus tropeços por aí? Pode ser que sim.

A Mulher Maravilha é um dos personagens mais fracos e planos da DC Comics. Nada do que essa criatura se meta dá muito certo. Ela é feita para ser a gostosona dos quadrinhos e atrair os nerds que não vêem mulheres há tempos. E foi esta a missão que ela cumpriu. Ok, eu entendo todo o mérito dela de colocar uma protagonista feminina em um papel que não fosse o de dona de casa comportada e domesticada. Mas não sei qual dos dois é mais ofensivo: este ou o da mulher-objeto que ela colocou na tela.

Mas, como eu disse, David E. Kelley é Deus. O homem é um gênio, e a personagem da Wonder Woman é tão vazia que pode ser preenchida com quase qualquer drama neste mundo. Quem sabe, quem sabe…

[First Look] Shit My Dad Says

Eu também estava com medo de assistir a Shit My Dad Says. Primeiro, porque a série havia sido duramente criticada durante a exibição para a imprensa no começo desse ano. Segundo, porque era William Shatner.

Recentemente, eu terminei uma relação de muitos anos com a série Boston Legal. Denny Crane é um dos símbolos da minha vida televisiva e Shatner representa muita coisa pra mim. Não queria que uma sitcom viesse e estragasse a imagem que eu tenho desse ator maravilhoso.

Não estragou. William é realmente um ator e tanto e, coisa que eu havia ignorado na minha preocupação, é um comediante de tanto. Nesta nova sitcom protagonizada por ele, o personagem principal é um velho rabugento sem vocação para a simpatia, mas que, no fundo, esconde bons sentimentos. Ou seja, é mais Denny Crane, desta vez sem o diploma de advogado.

Mas não tem problema. Com texto ágil e uma atuação deliciosa da parte de Shatner (e atores que, no mínimo, conseguem acompanhá-lo), a série me conquistou pela possibilidade de disfrutar, 20 minutinhos por vez, dessa capacidade deliciosa que William tem de me entreter, mesmo fazendo uso dos mesmos expedientes cômicos que ele usava em Boston Legal. Afinal, quem poderia duvidar da eficiência de Denny Crane?

[First Look] Raising Hope

-Mãe, pedi demissão. Tem que ter mais coisas na vida além de limpar a mesma piscina de novo e de novo.
– Não, filho. Não tem.

De vez em quando é divertido quando alguém tenta pensar contra a corrente. E eu sempre pensei nos criadores de My Name Is Earl com essa cabeça. São piadas boas, frescas e, principalmente, não são previsíveis.

Pois assim é a nova série do roteirista em questão, Gregory Thomas Garcia. Raising Hope conta a história de um garoto comum, que trabalha com a família como limpador de piscinas, e acaba se envolvendo com uma assassina em série procurada por ter acabado com a vida de dois ex-namorados.

A moça engravida, é presa e condenada à morte, deixando Jimmy com a responsabilidade de cuidar de uma garotinha a que ela deu o nome de Princess Beyoncé. Pois é. Claro que no fim o pai apela para o bom senso e muda o nome da menina para Hope, por isso o título da comédia.

Jimmy precisar então criar Hope ao lado de dois pais malucos que o tiveram aos 15 anos e uma avó que já não sabe mais o que é lucidez, e passa a maior parte do tempo de um lado para o outro vestindo apenas um sutiã. Fora o primo que mora em uma barraca no meio da sala.

O roteiro é bem bacana, lembra algumas comédias independentes, assim como My Name Is Earl lembrava. Não é escrachado, não deve agradar todo mundo, e foi por isso mesmo que me agradou. Mas eu devo chamar a atenção aqui para outro aspecto do seriado: a atuação. Principalmente a da mãe de Jimmy, avó de Hope.  Martha Plimpton está tão à vontade no papel de mãe suburbana meio maluca, meio com pé no chão, que dá gosto de ver.

Se você já cansou das mesmas sitcoms de sempre, com as mesmas piadas de sempre, está na hora de anotar a recomendação.

Dexter – O Retorno

Quem acompanhou a quarta temporada de Dexter, sabe do que eu estou falando: o final daquele último episódio foi das coisas mais arrebatadoras que eu já vi na televisão. Não foi a morte, não foi o acontecimento, foi o jeito como todas as peças se encaixaram para fazer de um homem já desajustado, um irremediado, um acuado sem saída pelas circunstâncias.

Por isto, fui com toda sede ao pote que era o início da quinta temporada quando [prepare-se, este texto está cheio de spoilers] o personagem de Michael C. Hall teria que lidar com a morte de Rita nas mãos de seu inimigo mais intrigante, o Trinity Killer. E não me decepcionei.

O que Dexter vai fazer agora? Como um homem sem sentimentos e emoções vai lidar com a mais humana das situações, a morte? O desespero nos seus olhos por não saber o que fazer e, pior, não saber o que esperavam dele, foi um dos grandes pontos da atuação de Michael que, eu imagino, se tiver a boa ideia de inscrever este capítulo nas premiações, não vai sair perdendo.

Em determinado momento do episódio, Dex é humanizado. Ele percebe que tem emoções, que não está completamente anestesiado em relação a tudo aquilo, quando se descontrola e mata, sem seguir todo seu ritual, sem lidar com todos os mandamentos, um homem que o irrita em uma loja na beira do porto. Este foi só o começo. O que pode parar um homem que não tem nada a perder?

Modern Family – The Kiss

É disso que eu estou falando, criançada. Comédia não precisa ser um monte de frases bobas e piadinhas manjadas de sitcom juntas. Ela pode ser também Modern Family.

A melhor comédia do ano segundo o Emmy continua a melhor comédia do ano e só consegue se superar. A estreia da segunda temporada foi boa, sim. Mas o segundo episódio foi um dos melhores da série até hoje – e não sei se vai ser muito fácil de superar.

The Kiss trouxe o primeiro beijo de Alex e, mais importante, o problema de Mitchell com demonstrações de afeto em público. Era uma queixa antiga de alguns fãs da série que o casal gay ainda não havia se beijado em cena, mesmo depois de uma temporada inteira de mais de 20 episódios. Enquanto isso, os demais casais da atração já haviam protagonizado diversas cenas de beijo.

Durante o capítulo, nós descobrimos que esta é uma reclamação de Cameron de longa data – seu parceiro nunca consegue beijá-lo em público, e a situação já está ficando insustentável. Um jantar em família acontece na casa de Gloria e Jay, o assunto surge e eles constatam que as dificuldades de Mitchell com intimidade não são de hoje, da falta de afeto que recebeu de seu pai quando era criança. Jay tenta reparar as coisas, dá um beijo em Mitchell e, em seguida, parte para sua outra filha, Claire.

Enquanto Claire e Jay se beijam em primeiro plano, no fundo da tela, você consegue ver Mitchell e Cam trocando um beijo carinhoso – mas não daqueles de cinema com línguas para todos os lados. O tão esperado, o tão falado, o tão comentado beijo gay de Modern Family. Foi isso, uma cena de poucos segundos no canto da tela. Ou como disse o jornal NY Times, um beijo que, se você piscar, perde.

E eu não me incomodei com isso. Para falar a verdade, achei o modo como eles trataram do assunto de uma delicadeza, de uma genialidade e de uma simpatia que me comoveram. Afinal de contas para que colocar o beijo gay no centro das atenções? Porque é gay? Só pensar assim já soa como um insulto aqueles que defendem a igualdade para os homossexuais.

É como se o que os roteiristas de Modern Family quisessem dizer com isso fosse o seguinte: a maior demonstração de respeito e consideração que nós poderíamos ter com essa questão é tratar Cameron e Mitchell como um casal normal, porque não há nada de anormal com eles.

Mitchell é um homem mais discreto, como existem milhões de héteros por aí. Cam é a drama queen que nós conhecemos e aprendemos a amar. O único problema que eles tinham era uma incompatibilidade boba que pode acontecer com qualquer casal. E assim segue a vida. E assim segue Modern Family. Brilhante, acima de tudo, na sua maturidade.

[First Look] Lone Star

Se tem alguma coisa que tem o poder de me deixar irritada é uma série boa enfrentar o cancelamento prematuro por conta da falta de capacidade do público norte-americano de entender o que  está se passando na sua frente.

(Não que o brasileiro possa falar muita coisa. A TV aberta daqui nem se arrisca a produzir produtos de qualidade do nível deste que despertou minha raiva desta vez, mas eu nasci rabugenta assim, vou criticar mesmo. Não gostou, procure um blog mais colorido e feliz. Certeza que tem vários por aí.)

Lone Star. A história de um jovem criado pelo pai, que aprendeu desde criança os segredos para se tornar um golpista de primeira qualidade. Casado por interesse com a filha de um poderoso empresário do petróleo, Bob tem uma namorada em outro estado e leva a vida dupla esperando pela oportunidade de ouro de abocanhar a fortuna do velho (John Voight, diga-se de passagem).

Pois em certo momento de sua vida, Bob se cansa, como o roteiro chega a mencionar, de “ser amado pelo que finge ser”. Quando lhe é oferecido o cargo na empresa do sogro que ele espera há tempos, o primeiro pensamento que vem a sua cabeça é: “E se eu aceitasse mesmo o trabalho?” Ou seja, o que aconteceria se ele resolvesse levar uma vida decente?

O problema é que seu pai, cúmplice na empreitada, não vai aceitar de bom grado que o filho desperdice todo o trabalho que os dois tiveram nestes últimos meses. O pai não conhece vida honesta, e não acha que valha a pena que seu filho a conheça também.

Drama bem montado, cheio de personagens interessantes, com fortes motivações para resolver seus conflitos, atores preparados, direção criativa e sagaz. Resultado? Foi cancelada nesta semana, depois de apenas dois episódios exibidos.

O capítulo de estreia alcançou 4 milhões de telespectadores no canal Fox, uma emissora acostumada a bater sempre na casa das dezenas. Triste, muito triste. Mas fica aqui minha homenagem. Adoraria ter acompanhado a jornada de Bob em busca de sua dignidade pelo menos por uma temporada completa.